Ler, hoje, não se coaduna com o
modo de leitura da nossa infância, onde a imagem era rara, a ilustração única,
monótona, com duas tonalidades, tendo predominantemente, o preto e o vermelho.
Tudo o resto, imaginávamos, observávamos e às vezes, com dificuldade porque
faltava qualquer coisa. O importante era ler,-um ato difícil -, não pelo texto,
mas pela falta das imagens. Na minha família há várias gerações que o livro era
um objeto usual, pousado numa cadeira ou numa mesa, era motivo de conversa. Recordo
com saudade que no Natal, no “sapatinho” entre bonecas, jogos, aparecia sempre
um livro com ilustrações, alguns com aguarelas, algo raro e dispendioso. Era um
presente único sobretudo se era em Pop Up, um conto clássico, onde a ilustração
se sobrepunha ao texto. O ato de imaginar, sonhar, como aquelas personagens se
moviam pela história era fantástico. As fábulas, os contos tradicionais, as
histórias da Bela Adormecida, ou dos Sete Anões, a coleção da Anita e até mesmo
os livros de Enid Blyton, já existiam,
eram lidos, comentados e apreciados. Nos anos 60 e 70 do século XX, tal como
nos diz Eduardo Lourenço, a vida cultural portuguesa,- antes do 25 de abril de
1974-, centrava-se numa preocupação obsessiva com a identidade nacional,
próprio do regime de então, e que caracterizava os manuais de Língua portuguesa
e na própria educação. No entanto, havia lugares onde era possível adquirir
outros livros, em Lisboa e no Porto, não só entre alfarrabistas, mas na própria
Livraria Bertrand do Chiado, por épocas do Natal.
Hoje, em pleno século
XXI ler continua a ser uma tarefa árdua, difícil e talvez por isso continua a
ser tão importante, não só a leitura, mas a literacia, compreender a palavra,
desconstruir o texto e saber o significado da palavra em cada contexto. Por
isso, hoje é tão importante a competência da leitura. Aqui surge a missão das
Bibliotecas Escolares e do professor bibliotecário e da sua importância
enquanto mediador do livro da leitura, da literacia, das estratégias e
ferramentas tecnológicas que hoje nos acompanham passo a passo, no nosso dia a dia,
sempre com uma finalidade criar leitores ativos, transformar a informação em
conhecimento. Já Leonardo Coimbra dizia, no século XX, que não bastava terminar
com o analfabetismo, mas que era necessário levar o povo a pensar. Na
atualidade temos que terminar com a iliteracia, é preciso que se criem leitores
de informação dos média e da leitura, seja em livros impressos ou digitais. Não
importa o suporte de leitura, mas sim a estratégia a usar para que o aluno
aprenda a ler.
A Biblioteca Escolar, o professor
bibliotecário no seu dia-a-dia promovem a leitura recreativa, dinâmica, a
ilustração do conto lido, ajudam na escolha de um livro, organizam encontros
com escritores e contadores de histórias, atualizam o fundo documental de
acordo com as listas do Plano Nacional de Leitura a das Metas Curriculares. Constroem-se
as atividades em colaboração com os docentes das disciplinas e dos seus
conteúdos curriculares, proporcionam-se exposições, relembram-se factos históricos,
entre outras coisas. Divulgam-se no Blogue os concursos de leitura, a montra
das novidades e as atividades que decorrem ao longo do período (http://bedoavert.blogspot.pt/ ).
No Agrupamento de Escolas de Rio Tinto,
hoje existem duas Bibliotecas Escolares, uma na Escola Sede e outra na Escola
Básica de São Caetano1, onde todos os dias se realizam atividades de leitura (contar
histórias, ler livros, apoiar os alunos na escolha de um livro, nos trabalhos,
nas pesquisas, promover encontro com contador de histórias, exposições,
efemérides e outros). O trabalho continua sempre em promoção da leitura, mas
podemos dizer que a Biblioteca de São Caetano 1 que só abriu no final de
outubro de 2017. Esta teve 160 (86,02%) requisições domiciliárias, ou seja,
requisitaram e leram-se, em casa, com as famílias ou de forma autónoma, entre
alunos do 2º, 3º e 4º ano. No caso da Biblioteca da Escola Sede tivemos cerca
de 285 requisições (39%), um ligeiro aumento em relação ao 1º período do ano
passado. No que concerne à leitura presencial em contexto de sala de aula nas
aulas de Português do 2º ciclo, no 1º período, os docentes para além dos livros
de leitura obrigatória, leram mais dois títulos o que também motivou o
interesse e aumentou a requisição domiciliária.
A Biblioteca Escolar deve ser um local imprescindível,
de destaque, que terá sempre como missão a formação de leitores, com estratégias
e abordagens diferentes, acompanhando e apoiando o atual leitor, o nativo
digital.
Maria do Rosário Machado Pinto
(Coordenadora da BE do AERT)
Sem comentários:
Enviar um comentário