16 novembro 2010

Durante a semana de 13 a 25 de Outubro decorreu na BE mais um concurso "Escrita em Cadeia" que visava premiar a criatividade na escrita.
A partir de um excerto de A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón, os alunos era incentivados a continuar a história. Aqui se reproduz o resultado final, bastante diferente do original.
A todos os participantes o nosso bem-haja e à vencedora, Catarina Casais do 8ºF; os nossos PARABÉNS.

― Este lugar é um mistério, Daniel, um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. Há já muitos anos, quando o meu pai me trouxe pela primeira vez aqui, este lugar já era velho. Talvez tão velho como a própria cidade. Ninguém sabe de ciência certa desde quando existe, ou quem o criou. Dir-te-ei o que o meu pai me disse a mim. Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, os que conhecemos este lugar, os guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui. Neste lugar, os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar um dia às mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém. Agora só nos têm a nós, Daniel. Achas que vais poder guardar este segredo?


_ Sim, pai, eu sei guardar este segredo, mas o que me estás a dizer é verdade?
_ Sim, meu filho, mas não podes dizer a ninguém, nem aos teus colegas do prédio. Este santuário de livros ganha vida durante a noite. Houve um dia em que eu e os meus colegas ficámos cá durante a noite e os livros ganharam vida, alguns começaram a cantar e outros começaram a dançar. Mas tu prometes que não dizes nada.
_ Sim, sim, eu prometo que não conto a ninguém, pai.
No entanto Daniel fez tudo ao contrário e foi logo contar aos amigos.
Ficaram a noite lá e os livros ganharam vida e atacaram-nos, levaram-nos para uma cripta subterrânea e prenderam-nos.
No dia seguinte, eles continuavam presos e ansiosos, pois pensaram que os pais estavam preocupados, mas, afinal era apenas um sonho.
Quando acordou, Daniel jurou nunca mais contar nada.  
De manhã, depois de acordar, foi tomar o pequeno-almoço com os pais…
Estava muito assustado com o que sonhou. Então, como era Sábado, foi à procura de uns livros que lhe explicassem melhor o significado da história que o pai lhe tinha contado.
Procurou, procurou, procurou e foi procurando, até escavou um buraco no jardim, mas não encontrou nada…
Andou por todas as bibliotecas da cidade onde vivia, nem almoçou só para estar mais informado.
No final da tarde, lembrou-se de um sítio que ainda não tinha visitado, o seu mágico sótão...
Lá encontrou o que precisava.
Daniel pensativo com o discurso do seu amigo respondeu:
- Claro que consigo, é um segredo difícil de esconder dos mais velhos, e muito tentador contar, mas prometo que nunca contarei esse segredo que a biblioteca tem.
- Obrigado Daniel, não sabes como me soube tão bem este desabafo…espero nunca me arrepender de o ter feito.
 Na manhã seguinte, Daniel acordou com a voz da mãe a chamar para tomar o seu pequeno-almoço.
Quando chegou à cozinha, a mãe disse:
- Então, meu filho, tens alguma novidade?
- Sim mãe, nem sabes o que o Gabriel me contou!
- O quê filho?
- Ele….
Daniel esqueceu-se que era um segredo, mas a sua consciência veio a tempo de o impedir de contar o grande segredo.
- Diz filho, ele…?
- Nada mãe, é segredo, prometi não contar, e promessa é promessa, nada no mundo me vai fazer quebrar tal coisa!
- Está bem, meu filho, vai então para a escolinha! Até logo!
À saída de casa olhou para o céu e uma brisa suave arrepiou-o. Então, olhou à volta, porém não viu nada de estranho e pensou:”esquisita, esta brisa…”.
De repente, ouviu uma voz, um pensamento talvez, não sabia bem…algo lhe disse:”obrigado por não teres revelado o nosso segredo, estamos muito agradecidos.”
Assustado fez de conta que não ouviu e continuou o seu caminho.
Logo que chegou à escola, o Gabriel preocupado perguntou:
- Contaste o segredo?
- Não, segredo é segredo, não posso contar…
- Ainda bem, porque segredo é segredo, exactamente como tu disseste.
- Mas, Gabriel, à saída de casa uma brisa estranha apareceu no céu.
- O que te disse?
-‘Obrigada, por não teres revelado o nosso segredo, estamos muito agradecidos.’
- Foi a biblioteca que te disse.
Gabriel, por sua vez disse ’hummmm, que estranho.’
-Não sabia que a biblioteca falava.
-Pois, nem eu.
-Olá, nós trabalhamos aqui na biblioteca.
-Disseram que a biblioteca fala?
-Isso é verdade.
-Porquê? A biblioteca fala?
-Gostam da biblioteca?
-Sim, sim, a biblioteca é um sítio muito agradável!
-Porque tem livros que nos ensinam tudo.
-Claro que vou pai!
-Ainda bem Daniel, espero que o guardes muito bem!
 No dia seguinte, Daniel quando estava na escola, estava a jogar um jogo com os amigos, e então…
-Anda lá Daniel, é a tua vez de contar um segredo!
-Não posso. Prometi que não dizia nada a ninguém.
-Mas tens que dizer!
-O meu segredo nunca mais será revelado nem aos meus melhores amigos!
 Então, Daniel foi para casa. Pousou as coisas no quarto e fez os trabalhos de casa. A seguir o pai perguntou-lhe se a escola lhe tinha corrido bem.
-Então Daniel, a escola correu-te bem?
-Correu pai! Até estive a jogar um jogo em que tinha de dizer o meu segredo! Mas não o disse porque eu prometi que não o dizia a ninguém!
-Ainda bem Daniel! Sabia que poderia confiar em ti.
-Pai, a partir de agora podes sempre confiar em mim pois eu aprendi a guardar um segredo, seja lá qual for.
- É assim que se fala, filho. Agora vai dormir para amanhã acordares cheio de energia para conseguires estar atento na escola.
-Está bem, vou fazer isso.
Então, o Daniel foi dormir. Sonhou com os livros a falarem com ele, por isso pôs-se a gritar durante a noite, porque estava a ter um pesadelo mas o pai foi acalmá-lo. No dia seguinte, o Daniel acordou bem-disposto. A caminho da escola, ele ouviu outra vez aquelas vozes a dizer “Obrigado por não teres revelado o nosso segredo, estamos muito agradecidos.” Não ligou outra vez e foi para a escola falar com o amigo:
- Sabes Gabriel, hoje a caminho para a escola ouvi outra vez aquelas vozes.
- Devem ser os livros a agradecer-te por não teres dito o segredo deles a ninguém.
- Até aí eu já cheguei, não sou assim tão burro.
-Está bem, já não está aqui quem falou.
- Vamos para as aulas porque a «stôra» já deve estar lá dentro e nós aqui com estas conversas.
- Vamos lá.
Eles estavam nas aulas e o amigo do Daniel ouviu as tais vozes vindas dos livros e ficou com muito medo. Mandou um papel para o Daniel a dizer que estava assustado com aquelas vozes que ele tinha ouvido durante as aulas.
Saíram das aulas e o Gabriel foi logo ter com o Daniel muito, muito assustado:
-Eu já sei como são as vozes porque eu …
-Eu sei, eu recebi o teu papel e olha que eu também fiquei preocupado contigo, comecei mesmo a pensar que a professora se tinha apercebido.
-Olha, eu vou para casa disse o Daniel.
 Ele foi para casa e estava cheio de fome, por isso pediu à mãe para lhe fazer o lanche. Sentou-se enquanto esperava. Entretanto viu um livro a sair da sua mochila que dizia:
- Tu não te vais ver livre de mim, eu sei que não contaste o segredo mas podes vir a contar por isso eu estou sempre perto de ti…
Daniel ficou assustado a pensar porque é que o livro dele se mexeu mas disse:
 -É claro, este livro foi o que eu requisitei na biblioteca, na semana passada.
Aquele livro que tinha saído da mochila do Daniel, não queria que o segredo da biblioteca fosse desvendado.
O segredo que a biblioteca guardava era muito importante, portanto os livros queriam evitar que fosse descoberto pelos habitantes da cidade. Se tal acontecesse não poderiam cantar nem dançar, nem divertir-se; tinham que estar sempre naquela estante velha em que nunca ninguém quis tocar.
No dia seguinte, o Daniel foi à biblioteca para ler um livro e enquanto lia pensou: estes livros não merecem estar nesta angústia, eles têm que se divertir, e no que depender de mim o segredo deles estará sempre em segurança…"





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